Tuesday, June 26, 2007

Vou mesmo desistir do blog

A Benedita diz que vai fazer um blog só dela. Bem assim não dá!

Wednesday, December 06, 2006

Eis-me regressado. Ando péssimo de ocupações e assim. Mas vou voltar não tarda!
Fiquem bem que eu também! Já tinha saudades disto, ou como diz a... O quê?... Bem, A Benedita está achamar. Até breve. Já vou, meu bijouzito! [Bijouzito, o caraças] São as hormonas... pobrezinha...

Sunday, August 20, 2006

Os serviços secretos dos Gauleses

Quando leio os livros do Astérix, fico sempre fascinado pelas cores, embora haja umas coisas que me passam ao lado, como aqueles povos todos que é impossível que tenham existido. Todos sabemos que existiam os romanos e que foram eles quem fundou a Igreja Católica e levou Cristo ao estrelato. Como o nome diz: Igreja Católica Apostólica Romana! Existiam também os gauleses que, naquele tempo, eramm assim uma espécie de Partido do Bloco, aquele do senhor do aborto e das drogas leves e assim, que é Francisco e do irmão do outro que é de direita. O resto é, como diz o Diogo de Outorela e Saldanha, velho amigo da família, especulação. Tem tudo a ver com uma bolsa e assim. Eu pensava que o dinheiro vem das heranças e do patrimónoio dos avós, das heranças, portanto, mas ele disse-me: "Ouça lá, ó Manel, não seja ingénuo. É a bolsa, meu caro, é a especulação, está a ver?" Respondo sempre que sim mas, de verdade que nunca o vi usar bolsa. Bolsas usa o irmão dele, mas esse, todos sabemos que é um bocadinho feminino. Um dia, o nosso Frederico foi-lhe abrir a porta porque as criadas não foram suficientemente rápidas e, quando ele entrou, o Frederico gritou: "Ó pai, venha cá abaixo! É aquele paneleiro, irmão do Diogo!" Eu expliquei ao Tomás que o Frederico andava a contactar demasiado com os serviçais e ele compreendeu. Bem, a verdade é que lhe dei uma água de colónia daquelas que a Benedita não usa e ele até se lambeu todo! Ele não é paneleiro, eles tinham investimentos na metalurgia, mas ele não. Ele tem uma galeria de arte, daquelas com quadros aos borrões e assim. Enfim... Estava a falar dos gauleses. Os gauleses são o único povo que existia, para além dos romanos. Antes de Portugal, havia a România (e não Roménia, que é de onde vêm os mendigos e as criadas e assim, embora nós prefiramos as portuguesas, da província; é só dar um jeitinho no buço e ficam óptimas). Depois, acho que foi com D. Sebastião e assim, os Espanhóis, fugiram para a Espanha e nós escolhemos Portugal. Acho que era óptimo, porque havia nobres e assim. Logo depois de Cristo, o rei Afonso Henriques, que rea filho do outro, disse: "Agora não há mais romanos e pronto! Tudo fora daqui! E ficámos só nós, antes de tudo se encher de povo. A nossa língua vem até do romano e por se escrever em línguas que vêm do romano é que se escrevem romances e assim. Eu vou ouvindo o que a Benedita fala com as crianças e depois pergunto ao Sr. Cónego se é verdade. Normalmente ele explica-me melhor e eu fixo logo estas coisas da história de Portugal. Só que naqueles livros do Astérix só se fala do Obélix, do Astérix, do Panoramix e dos outros que cantam e vendem peixe e assim. A Benedita é que me abriu os olhos. Num dia em que eu andei o dia todo a falar disto porque foi quando consegui acabar o Astérix e os Normandos em apenas quinze dias (vejam como fiquei empolgado) ela disse-me a dada altura: " Eh pá, larga-me com a merda dos romanos e do Asterix e do Obelix, pá... Já chega! Olha, porque é que não lês qulquer coisa sobre o Clitórix, vais ver que ainda ganhamos os dois! Pode ser que o descubras, finalmente!!" Estava alterada... Nós, os homens modernos, temos que compreender que as mulheres, agora, têm hormonas e assim e que ficam piores das hormonas todos os meses. As hormonas da Benedita são tramadas! Então, eu pus-me a pensar e tive uma visão: os gauleses têm guerreiros que não estão à vista! São os agentes secretos. E o Clitórix deve ser o chefe, por isso é que eu não o vi. O Clitórix deve ser aquele que toda a gente sabe que existe mas custa a ver-se! A Benedita, que sabe História, não falha. E quando eu lhe disse: "Ó Benedita, você é brilhante e faz-me aprender tanto...Vai ver que vou encontrar o Clitórix!", ela respondeu-me "Olha Manel, já me cansei de te ensinar e nada! Percebes, nada! Nem Clitórix, nem Orgasmix! Nicles! Se não fosse o Funciono-a-Pilhastórix já o Clitórix estava morto!" E virou-me as costas... As coisas que ela sabe! Conhece-os todos, estes heróis gauleses, e as intrigas e o chefe..." Bem, com o tempo que passa a ler, também tem obrigação disso!

Saturday, August 05, 2006

O mordomo dos Saavedra

Já vos falei do meu amigo Bernardo, o que tem o irmão embaixador em África. É gente fantástica e com imenso dinheiro, os Saavedra. Têm uma casa espectacular, tudo móveis antigos fantásticos, com séculos, tantos quantos os dos nomes Guedes e Saavedra e assim. Mas, como o nível é isso mesmo, não fizeram a coisa por menos. Chegamos para jantar lá em casa e vemos um senhor bem vestido a levar artigos de jardinagem para uma carrinha. Depois, entramos e vemos a casa vazia. Do recheio que tão bem conhecíamos restava zero. Conclusão: remodelação total. Disse logo à Benedita: “Vão mudar para o design! Do nada! Quem pode, pode e mais nada, fartaram-se daquele look pesado à Museu de Arte Antiga. A mãe, a Senhora Dona Constança até me dizia: “Ó Manuel, quando quiser ver arte antiga, olhe à sua volta, há de tudo, de todas as épocas: é um museu vivo.” Pois bem, o Bernardo fartou-se e matou o museu. Depois veio ter comigo e disse-me: “Ouça lá, Manuel, vamos ter de ir fora e assim. Decidi remodelar tudo e dei folga à criadagem, ok?” Claro! Tudo para onde? Fortaleza do Guincho! O Marc Le Ouedec é fantástico, senão o Westermann vem de Estrasburgo a Cascais e humilha-o publicamente, enfim, sublime! Sublimes estavam também duas coisas: em segundo lugar, os lavagantes assados com maçãs, de chorar por mais quando não se tem dinheiro, porque quando se tem, enche-se a pança, discretamente; em primeiro, o nível dos Saavedra a brilhar em todo o seu esplendor. Não podendo receber em casa, o Bernardo trouxe o seu mordomo que, de fraque, impecavelmente perfilado por detrás dele, aguardava, qual cão fiel as ordens de um Saavedra! Eu até lhe perguntei, porque tinha bom aspecto e podemos precisar que nos recomende um mordomo, quando decidirmos ter um, como se chamava, ao que ele respondeu: “Cobrador do Fraque”. Deve ser alcunha, daquelas que a criadagem lhe põe. Como anda de fraque e, se calhar, foi despedido de cobrador da carris ou da CP, porque agora põem máquinas em tudo. Enfim, disse logo ao Bernardo que eu pagava e ele disse-me “Ouça lá, pode ser, até porque eu, com isto de redecorar a casa, esqueci-me da carteira e assim.” À saída, estava alguém de volta do Meseratti Spider do Bernardo e ele, sem paciência para ladrões e como nós estávamos com os miúdos e podia ser perigoso e assim, deu-lhes logo a chave. Bem vestidos os gatunos de automóveis, pareciam bancários… Deixámo-lo em casa dele e, à saída comentei com a Benedita: “Ó Benedita, viu bem o nível do Bernardo Saavedra?” Ela respondeu-me: “Nível? Porra, está é teso!” Logo ela que não dialoga comigo sobre sexo e assim, a tecer comentários vulgares sobre a dureza da masculinidade do Saavedra… São as hormonas, só pode ser…

Gente com Nível no Expresso...finalmente!

Graças a Deus, as ostras de ontem fizeram-me mal. Resumindo: casa de banho, Expresso! Na revista “Única”um título de capa de fugir “Brasil nos trilhos de Lula”. E a feijoada? E a picanha? Depois, um senhor gordinho com cara e farda de Capitão Iglo, mas num comboio a dizer adeus. Enfim. Não se percebe nada e… fui ao índice. Sim, é verdade, às vezes temos de… e as ostras fizeram-me mesmo muito mal. Página 74: “Entrevista, Seixas da Costa, O embaixador de Portugal” O título é fantástico, porque é entrevista mas ‘Seixas da Costa’ é um nome maravilhoso. Se, em vez de Proença fosse Seixas da Costa, não estaria mal. Há povo em Costa, assim sem mais nada mas Seixas e da Costa tem nível. Melhor seria de Seixas e Costa mas não se pode ter tudo. O senhor, veste elegante, podia ser de cá, morar perto de nós, os Proença mas não, vive num Palácio e só os Duques e assim é que vivem em palácios. Lá está ele, com uma mão elegantemente sob a sua axila (só o povo é que tem sovacos e assim) e tem um lábio superior fantástico, de linhagem superior. Imaginemos que tinha os dentes salientes… Não haveria problema: o lábio cobria. Se fosse povo, seriam os dentes horrorosos a empurrar o lábio, à coelho. Como é Duque e vive no Palácio das Necessidades, é o lábio superiormente derramado sobre o seu irmão inferior. Depois, é embaixador, o que é óptimo. O Bernardo Guedes e Saavedra disse-nos um dia que o irmão dele era embaixador no Burundi e que ele é que mandava lá porque era branco e usava gravatas italianas e tinha um Mercedes S blindado e pretos, daqueles limpinhos para lhe fazerem tudo, bem, o Paraíso. A Benedita concordou mas disse que nós não tínhamos representação diplomática no Burundi, ao que eu acrescentei que alguém como o Pedro Guedes e Saavedra nem precisa disso para ser embaixador: nasceu embaixador e pronto! Ela não gostou, não sei porquê e disse-me: “És um parvo de merda, Manel. Se não fosse a massa tinhas nascido, tu, para engraxador! Não percebi, até porque, cá em casa, não se come massa, come-se ‘pasta’ e da importada e assim. Voltando ao embaixador, ele é quem manda e revela toda a sua autoridade (a quantidade de pretos e russos e brasileiros que eles, os Seixas da Costa terão lá no Palácio) Quando o Balsemão (é ele quem faz o Expresso) lhe diz: “E, consigo, há ainda que falar da vida, dos amigos, dos livros, das tertúlias…”, ele toma a palavra: “Começo com os livros: uma tragédia!” Como eu! Tal e qual! E continua “Nas estantes estão em dupla fila, ocupam mesas, empilham-se no chão.” E assume, como eu, a verdade nua e crua: “Não consigo ler todos, nempensar nisso.” De nível, puro e duro a frase: Melhor que ter um livro, só o prazer de o comprar.” Fiquei em êxtase! Saltei logo umas linhas e “É preciso saber dar um salto fora da rotina, ir beber um copo…ler blogues…” Como eu!!! Almas gémeas, eu e o embaixador. Apenas lhe falta um degrau para subir até ao meu patamar: a mim falta-me o Palácio, o lábio superior excessivo e ser Duque mas, quando à pergunta “O que é que ainda pede à vida?” ele Responde”Só peço tempo”, eu rio-me na cara do Duque do Lábio Comprido: tempo é o que me sobra, meu amigo! Tanto, que quando me aborreço e digo à Benedita: “Ó Benedita, e agora, faço o quê?”, ela responde “Faz panelas, vais ver que ainda tens jeito para alguma coisa!” Os miúdos riem sempre e eu também, embora não perceba. Panelas, assim mesmo, de verdade, nunca fiz. É coisa de criadagem.

Sunday, July 30, 2006

Os festivais e as festarolas populares

Hoje fomos à missa com as crianças. A criada ficou lá atrás com eles porque o Frederico é terrível e faz imenso barulho e a Beatriz está sempre a perguntar coisas, o que é irritante. Não é que não saiba responder mas digo sempre: “Pergunte ao Sr. Cónego Gramíneo Quando ele for lá a casa.” Funcionou durante uns tempos mas houve um dia em que me disse: “Ó papá, o Cónego Gramíneo gosta é de beber pinga da boa e enfardar até cair!” Fiquei chocado, eu e as pessoas à volta porque ela tem aquela vozinha de dez aninhos, estridente e insuportável. Acabou-se!
Isto por causa da missa. Hoje, a leitura maior era aquela do piquenique. Povo com fartura! Tanto que nem havia sardinhas para todos, nem o pão onde pôr a sardinha e aparar aquela gordura toda que a gente simples gosta de ver escorrer pelos dedos. Então Jesus, farto desta mania do peixe, que já vem do Santo António, disse: “Ok! Então é assim: não há pão para todos, nem sardinha. Está aqui imensa gente porque eu quando combino qualquer coisa, é em grande, porque sou filho de Deus e assim. Por isso, ó Pedro trate lá com os seus amigos de arranjar comida e não me venha dizer que não há dinheiro!” Eles ficaram cheios de medo porque Jesus era muito bom de coração mas a criadagem tem que ser ensinada e ele tinha uma dúzia ou mais, tantos que o Sr. Cónego até diz que ele teve de lhes pôr um nome porque não aguentava mais e disse-lhes: “Vou-vos chamar discípulos e pronto! Ó discípulo repita o que eu disse! Ó discípulo vá desinfectar o doente para eu tocar depois e assim!” Quer dizer, o Sr. Cónego não disse isto mas eu deduzo que deve ter sido assim. Eu falo assim com a minha criada e não sou Deus, nem filho de Deus! Bem, eles lá foram e Jesus viu um miúdo com umas côdeas e umas sardinhas e disse-lhe: “Ó miúdo venha cá!” Como era Deus, o miúdo foi, claro. Depois disse-lhe: “Deixe ver o seu prato!” Depois fez um truque e, como era Deus, multiplicou aquilo tudo, com o peixe já assado e em cima das côdeas para não haver bagunça porque onde há muita gente é sempre natural que o nível baixe e tal. Porque é que isto vem na Bíblia? O povo e os padres avermelhados do campo ou os intelectuais acham que é para quem vive menos-mal, como nós, ter de andar a dar dinheiro aos outros. A verdadeira razão é só uma: Jesus está a pôr cada um no seu lugar. Com esta mágica ele quis dizer ao povo que se dê por contente enquanto há sardinha e mais, enquanto houver sardinha, não ande à procura de melhor: para quem é bacalhau basta! (para quem não notou, fiz um trocadilho com peixe com imensa piada, embora esteja a falar do Senhor e devesse ter compostura. Quando tenho um destes rasgos de génio de que já falei, não me contenho). Além do mais, Jesus é contra esta cultura do popular e das festarolas com tinto e gordurama. Foi a segunda vez que fez truques com comida e bebida para não alimentar estas manias dos festivais e assim. (A primeira foi daquela vez em que estavam a beber um vinho horroroso e Ele disse:”Que vinho é esse? Substitui-o por um Chateau Latour ou coisa equivalente e foi o melhor casamento. Tão bom que ficou na Bíblia, por isso mesmo).

Saturday, July 29, 2006

O amor é maravilhoso!

A minha Benedita ama-me. E com paixão. Lembrou-se do meu aniversário e ofereceu-me um presente: Quando vi o embrulho assustei-me e disse: "Querida, excedeu-se! Uma caixa de charutos daqueles do Conde de não sei quê, iguais aos que o Diogo Semedo fuma no Casino." Ela olhou para mim, acho que com algum enlevo mas também um pouco com aquele ar de mamã que repreende, e disse: "Estás cada vez mais estúpido, Manel! Os charutos chamam-se Monte Cristo e era o que faltava eu dar-te uma caixa dessa merda para me empestares a casa toda! É um livro. Se o perceberes, sempre é sinal que tens neurónios a funcionar!" Eu abri e... escolhido pela mão do Senhor, seguramente, nem vi bem com a comoção mas parece-me que era um Sermão, aquele que Santo António escreveu aos peixes. Aquele Santo António não era de Lisboa, nem de Pádua, era de Cascais! E logo eu que sou tão devoto... A minha Benedita estraga-me com mimos...
Só não percebo alguma fixação que estas pessoas santas e assim têm com o peixe e o pão e assim. Enfim, seja como for, aquilo das noivas de Santo António e não sei quê e dos manjericos é um aproveitamento do povo para levarem a imagem finíssima do Santo pelas vielas do tinto e da sardinha. Continuaremos a lutar! Um dia, Santo António de Cascais será canonizado pelo Dr. António Capucho e fazemo-lhe uma estátua maior que a da Praça de Alvalade, que até está ali a dar para o Júlio de Matos!
Aagradeci, dizendo: "Para si, Benedita, obrigado por me manifestar este amor tão despojado e mostrar que me conhece tão bem." Ao que ela respondeu: "Despojado? Podes crer!"

A cultura nos jornais: alarmismos cósmicos

Caros amigos. Falei com a minha mulher e disse-lhe: ‘Ouça lá, tem de deixar de comprar o Expresso. Aquilo está a ficar péssimo, alarmista.’ Ela olhou para mim com cara de espanto e respondeu-me: ‘Deves estar maluco, não?’ Como me tratou por tu…pronto… é o período a chegar… é o costume… E porque é que me insurjo contra esse pasquim de suposta elevação cultural? Mais uma vez o suplemento "actual" com uma lista de livros a abrir. Só o que está na capa já arrepia: ‘Férias com livros’! O pior é o índice logo na capa: apanharam-me! Tento não ler mas não consigo evitar: ‘Schumann Génio Fragmentado (deve ser uma daquelas coisas das mil e uma noites, com génios e assim mas tipo puzzle… pode ser…); salto uma linha para não me assustar e: ‘Orkestrova abre jazz em Agosto’. O que quer que seja tem nome de criada russa: ‘Ó Orquestrova, traga um vermute ao Sr. Engenheiro, vá e não demore!’ É chique. Só é pena que esteja misturado com jazz. O jazz é bem. Fica sempre bem gostar de jazz e é uma música óptima. Temos imensos discos de jazz cá em casa, até mesmo de vinil que é mais fantástico ainda. O Gustavo Gomes diz-me sempre que é revivalista. Eu fico calado porque não sabia que ter um gira-discos dos antigos era ser revivalista. Logo nós que somos católicos, e com tanto que o Sr. Cónego Gramíneo cá vem e tudo. Enfim, adiante. Salto, à cavalo (um dia destes temos de falar de cavalos), a parte dos livros e do génio fragmentado, com umas ilustrações péssimas e só então vejo o horror. Todas as semanas revelam uma coisa assustadora. Na semana passada era o bibliófilo inveterado, agora é ‘O fim da galáxia’!! Bem foi o pânico. Agora que a vida nos estava a correr tão bem, com a herança da avó Mariana a poder ser movimentada, vai acabar a galáxia? Saí do wc a correr, devidamente arranjado, fui ter com a minha mulher e alertei-a. Foi rude mas chamou-me à razão:’És mesmo parvo, pá! Lê lá a seguir… Gutenberg… Galáxia Gutemberg… Marshall Mcluhan diz dalguma coisa?’ Não, mas fiquei mais tranquilo: nem tinha reparado que a galáxia que vai acabar se chama Gutenberg ou é em Gutenberg ou assim e a nossa é a Via Láctea. Aquilo do Marshall …uhan é hebraico, já sei. Como andou na faculdade de letras e lhe ensinaram línguas exóticas, cheira-me a hebraico e deve ser tipo ‘tem calma’ ou assim… Bom é bom que divulguem coisas de astronomia mas dos sustos não me livro. Se é assim a cultura, abaixo com ela. Bem, vou até ao guincho com a prancha. Combinei com o Gustavo e tem que ser, sempre bebemos um copo e molhamos a prancha e tal…

Thursday, July 27, 2006

O Gosto Gulbenkian e coisas do género

O jornal lê-se na praia ou no café, quando é preciso mostrar que estamos a par de tudo. Quando um homem quer ler o que verdadeiramente interessa, mesmo que seja coisa de mulheres, vai à casa de banho. A minha companheira, que também é minha mulher, e vejam como sou moderno a dizer isto, insiste em comprar o Expresso. Como andou na faculdade de Letras de Coimbra e tal, aceito mas na casa de banho! Na sala, no porta revistas de design do Stark, só as revistas de golfe ou de charutos. Ando agora a ter aulas de golfe e tudo porque é uma actividade que fica bem e é fácil de perceber. Os charutos, ando a ver se me habituo sem me engasgar. Dizem-me que os melhores são os Cohiba e eu comprei dois ou três e depois ponho as cintas nos Álvaro. Quando vou ao golfe dá sempre estilo. Isto vem tudo por causa dos jornais. Pois na casa de banho, lá estava o Expresso de 15 de Julho, com um suplemento chamado de 'actual', com o título 'O gosto Gulbenkian pág. 4' . Primeiro pensei: «O que será o 'Gulbenkian pág. 4'?» Depois percebi que era só 'O gosto Gulbenkian', na página 4. Não era óbvio mas aquilo é só para intelectuais... Fui à página 4, porque um dia caí na asneira de ler o índice e fiquei para morrer. Já lá vai para dois anos e nunca mais li um índice. Na página 4 não se percebe, porque quem fala de gosto, fala de moda e design e relógios e telemóveis e férias em Bali: 'A arte dos Afectos' e depois, a palavra Gulbenkian, escrita ao contrário e acho que era na vertical. Por amor de Deus!! Virei logo e... não consegui ver mais! Sei que era uma estátua, uma caixa de charutos com uma legenda a dizer que era uma...'caixa-farmácia' do Louis Vuitton. Na página seguinte um título criminoso: 'O bibliófilo pródigo'!!! Primeiro, um homem que faz o amor com Bíblias e depois uma brincadeira com o texto que é da Bíblia que é o filho pródigo. É uma leitura, como diz o Cónego Gramíneo Almeyda, que é de boas famílias e que vai lá a casa e bebe whisky de malte e tudo. O que é que aquilo quer dizer? Porque é que um bibliófilo é pródigo? Na bíblia, diz-se que ele, o filho que não tinha nível e assim, foi viajar à hippy. Depois volta e diz ao pai: 'Ó pai, ouça lá, eu quero que mate uma vitela' O outro irmão diz logo: 'Você não tem nível nenhum e tal. Agora vamos sujar tudo com uma vitela se a criada pode comprar vitela no talho e não sei quê!' E o pai, que acho que era Deus ou assim diz: 'Ok! Vamos acabar com isso! Vamos tirar o veleiro da marina e dar uma volta ou então jogar golfe com os Fialho Sampayo que já vieram do Club Med.' O Cónego Almeyda explica-nos assim, porque a bíblia é difícil. É que isto de Deus a escrever livros é difícil. O Cónego Almeyda até já disse que o Joaquim Saramago ou o que é, aquele que é do PC, quis escrever uma bíblia e agora está preso numa ilha dos Açores com um nome tonto, tipo Lancelote ou Laçarote ou assim (só mesmo aquele povo simples dos Açores!)! Pensava que estava acabado mas não: afinal, o Expresso faz bom jornalismo: na folha a seguir, está um senhor que deve ser o bibliófilo, com o nome e tudo. Quem é? Rui Vilar! Está lá o nome! E ainda bem que tem uma fotografia porque pode ser alguém que viva ao pé de nós e assim sai do anonimato! Tinha os olhos com aspecto de ter estado a chorar mas é bem feito: uma Bíblia é para respeitar todos os Domingos, com um bom fato e numa igreja bem frequentada, ou numa estante com nível. Fechei aquilo tudo e saí horrorizado da casa de banho. Já tinha o Tomás Sequeyra e Cunha à minha espera para a aula de golfe. Só tive tempo de dizer à minha companheira: 'Ó Benedita, fique bem, vou ao golfe' e ouvi ao longe 'Vais com quem?' Nem respondi! Quando me trata por tu, está para lhe vir o período e assim!