Saturday, August 05, 2006

O mordomo dos Saavedra

Já vos falei do meu amigo Bernardo, o que tem o irmão embaixador em África. É gente fantástica e com imenso dinheiro, os Saavedra. Têm uma casa espectacular, tudo móveis antigos fantásticos, com séculos, tantos quantos os dos nomes Guedes e Saavedra e assim. Mas, como o nível é isso mesmo, não fizeram a coisa por menos. Chegamos para jantar lá em casa e vemos um senhor bem vestido a levar artigos de jardinagem para uma carrinha. Depois, entramos e vemos a casa vazia. Do recheio que tão bem conhecíamos restava zero. Conclusão: remodelação total. Disse logo à Benedita: “Vão mudar para o design! Do nada! Quem pode, pode e mais nada, fartaram-se daquele look pesado à Museu de Arte Antiga. A mãe, a Senhora Dona Constança até me dizia: “Ó Manuel, quando quiser ver arte antiga, olhe à sua volta, há de tudo, de todas as épocas: é um museu vivo.” Pois bem, o Bernardo fartou-se e matou o museu. Depois veio ter comigo e disse-me: “Ouça lá, Manuel, vamos ter de ir fora e assim. Decidi remodelar tudo e dei folga à criadagem, ok?” Claro! Tudo para onde? Fortaleza do Guincho! O Marc Le Ouedec é fantástico, senão o Westermann vem de Estrasburgo a Cascais e humilha-o publicamente, enfim, sublime! Sublimes estavam também duas coisas: em segundo lugar, os lavagantes assados com maçãs, de chorar por mais quando não se tem dinheiro, porque quando se tem, enche-se a pança, discretamente; em primeiro, o nível dos Saavedra a brilhar em todo o seu esplendor. Não podendo receber em casa, o Bernardo trouxe o seu mordomo que, de fraque, impecavelmente perfilado por detrás dele, aguardava, qual cão fiel as ordens de um Saavedra! Eu até lhe perguntei, porque tinha bom aspecto e podemos precisar que nos recomende um mordomo, quando decidirmos ter um, como se chamava, ao que ele respondeu: “Cobrador do Fraque”. Deve ser alcunha, daquelas que a criadagem lhe põe. Como anda de fraque e, se calhar, foi despedido de cobrador da carris ou da CP, porque agora põem máquinas em tudo. Enfim, disse logo ao Bernardo que eu pagava e ele disse-me “Ouça lá, pode ser, até porque eu, com isto de redecorar a casa, esqueci-me da carteira e assim.” À saída, estava alguém de volta do Meseratti Spider do Bernardo e ele, sem paciência para ladrões e como nós estávamos com os miúdos e podia ser perigoso e assim, deu-lhes logo a chave. Bem vestidos os gatunos de automóveis, pareciam bancários… Deixámo-lo em casa dele e, à saída comentei com a Benedita: “Ó Benedita, viu bem o nível do Bernardo Saavedra?” Ela respondeu-me: “Nível? Porra, está é teso!” Logo ela que não dialoga comigo sobre sexo e assim, a tecer comentários vulgares sobre a dureza da masculinidade do Saavedra… São as hormonas, só pode ser…

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