Sunday, July 30, 2006

Os festivais e as festarolas populares

Hoje fomos à missa com as crianças. A criada ficou lá atrás com eles porque o Frederico é terrível e faz imenso barulho e a Beatriz está sempre a perguntar coisas, o que é irritante. Não é que não saiba responder mas digo sempre: “Pergunte ao Sr. Cónego Gramíneo Quando ele for lá a casa.” Funcionou durante uns tempos mas houve um dia em que me disse: “Ó papá, o Cónego Gramíneo gosta é de beber pinga da boa e enfardar até cair!” Fiquei chocado, eu e as pessoas à volta porque ela tem aquela vozinha de dez aninhos, estridente e insuportável. Acabou-se!
Isto por causa da missa. Hoje, a leitura maior era aquela do piquenique. Povo com fartura! Tanto que nem havia sardinhas para todos, nem o pão onde pôr a sardinha e aparar aquela gordura toda que a gente simples gosta de ver escorrer pelos dedos. Então Jesus, farto desta mania do peixe, que já vem do Santo António, disse: “Ok! Então é assim: não há pão para todos, nem sardinha. Está aqui imensa gente porque eu quando combino qualquer coisa, é em grande, porque sou filho de Deus e assim. Por isso, ó Pedro trate lá com os seus amigos de arranjar comida e não me venha dizer que não há dinheiro!” Eles ficaram cheios de medo porque Jesus era muito bom de coração mas a criadagem tem que ser ensinada e ele tinha uma dúzia ou mais, tantos que o Sr. Cónego até diz que ele teve de lhes pôr um nome porque não aguentava mais e disse-lhes: “Vou-vos chamar discípulos e pronto! Ó discípulo repita o que eu disse! Ó discípulo vá desinfectar o doente para eu tocar depois e assim!” Quer dizer, o Sr. Cónego não disse isto mas eu deduzo que deve ter sido assim. Eu falo assim com a minha criada e não sou Deus, nem filho de Deus! Bem, eles lá foram e Jesus viu um miúdo com umas côdeas e umas sardinhas e disse-lhe: “Ó miúdo venha cá!” Como era Deus, o miúdo foi, claro. Depois disse-lhe: “Deixe ver o seu prato!” Depois fez um truque e, como era Deus, multiplicou aquilo tudo, com o peixe já assado e em cima das côdeas para não haver bagunça porque onde há muita gente é sempre natural que o nível baixe e tal. Porque é que isto vem na Bíblia? O povo e os padres avermelhados do campo ou os intelectuais acham que é para quem vive menos-mal, como nós, ter de andar a dar dinheiro aos outros. A verdadeira razão é só uma: Jesus está a pôr cada um no seu lugar. Com esta mágica ele quis dizer ao povo que se dê por contente enquanto há sardinha e mais, enquanto houver sardinha, não ande à procura de melhor: para quem é bacalhau basta! (para quem não notou, fiz um trocadilho com peixe com imensa piada, embora esteja a falar do Senhor e devesse ter compostura. Quando tenho um destes rasgos de génio de que já falei, não me contenho). Além do mais, Jesus é contra esta cultura do popular e das festarolas com tinto e gordurama. Foi a segunda vez que fez truques com comida e bebida para não alimentar estas manias dos festivais e assim. (A primeira foi daquela vez em que estavam a beber um vinho horroroso e Ele disse:”Que vinho é esse? Substitui-o por um Chateau Latour ou coisa equivalente e foi o melhor casamento. Tão bom que ficou na Bíblia, por isso mesmo).

Saturday, July 29, 2006

O amor é maravilhoso!

A minha Benedita ama-me. E com paixão. Lembrou-se do meu aniversário e ofereceu-me um presente: Quando vi o embrulho assustei-me e disse: "Querida, excedeu-se! Uma caixa de charutos daqueles do Conde de não sei quê, iguais aos que o Diogo Semedo fuma no Casino." Ela olhou para mim, acho que com algum enlevo mas também um pouco com aquele ar de mamã que repreende, e disse: "Estás cada vez mais estúpido, Manel! Os charutos chamam-se Monte Cristo e era o que faltava eu dar-te uma caixa dessa merda para me empestares a casa toda! É um livro. Se o perceberes, sempre é sinal que tens neurónios a funcionar!" Eu abri e... escolhido pela mão do Senhor, seguramente, nem vi bem com a comoção mas parece-me que era um Sermão, aquele que Santo António escreveu aos peixes. Aquele Santo António não era de Lisboa, nem de Pádua, era de Cascais! E logo eu que sou tão devoto... A minha Benedita estraga-me com mimos...
Só não percebo alguma fixação que estas pessoas santas e assim têm com o peixe e o pão e assim. Enfim, seja como for, aquilo das noivas de Santo António e não sei quê e dos manjericos é um aproveitamento do povo para levarem a imagem finíssima do Santo pelas vielas do tinto e da sardinha. Continuaremos a lutar! Um dia, Santo António de Cascais será canonizado pelo Dr. António Capucho e fazemo-lhe uma estátua maior que a da Praça de Alvalade, que até está ali a dar para o Júlio de Matos!
Aagradeci, dizendo: "Para si, Benedita, obrigado por me manifestar este amor tão despojado e mostrar que me conhece tão bem." Ao que ela respondeu: "Despojado? Podes crer!"

A cultura nos jornais: alarmismos cósmicos

Caros amigos. Falei com a minha mulher e disse-lhe: ‘Ouça lá, tem de deixar de comprar o Expresso. Aquilo está a ficar péssimo, alarmista.’ Ela olhou para mim com cara de espanto e respondeu-me: ‘Deves estar maluco, não?’ Como me tratou por tu…pronto… é o período a chegar… é o costume… E porque é que me insurjo contra esse pasquim de suposta elevação cultural? Mais uma vez o suplemento "actual" com uma lista de livros a abrir. Só o que está na capa já arrepia: ‘Férias com livros’! O pior é o índice logo na capa: apanharam-me! Tento não ler mas não consigo evitar: ‘Schumann Génio Fragmentado (deve ser uma daquelas coisas das mil e uma noites, com génios e assim mas tipo puzzle… pode ser…); salto uma linha para não me assustar e: ‘Orkestrova abre jazz em Agosto’. O que quer que seja tem nome de criada russa: ‘Ó Orquestrova, traga um vermute ao Sr. Engenheiro, vá e não demore!’ É chique. Só é pena que esteja misturado com jazz. O jazz é bem. Fica sempre bem gostar de jazz e é uma música óptima. Temos imensos discos de jazz cá em casa, até mesmo de vinil que é mais fantástico ainda. O Gustavo Gomes diz-me sempre que é revivalista. Eu fico calado porque não sabia que ter um gira-discos dos antigos era ser revivalista. Logo nós que somos católicos, e com tanto que o Sr. Cónego Gramíneo cá vem e tudo. Enfim, adiante. Salto, à cavalo (um dia destes temos de falar de cavalos), a parte dos livros e do génio fragmentado, com umas ilustrações péssimas e só então vejo o horror. Todas as semanas revelam uma coisa assustadora. Na semana passada era o bibliófilo inveterado, agora é ‘O fim da galáxia’!! Bem foi o pânico. Agora que a vida nos estava a correr tão bem, com a herança da avó Mariana a poder ser movimentada, vai acabar a galáxia? Saí do wc a correr, devidamente arranjado, fui ter com a minha mulher e alertei-a. Foi rude mas chamou-me à razão:’És mesmo parvo, pá! Lê lá a seguir… Gutenberg… Galáxia Gutemberg… Marshall Mcluhan diz dalguma coisa?’ Não, mas fiquei mais tranquilo: nem tinha reparado que a galáxia que vai acabar se chama Gutenberg ou é em Gutenberg ou assim e a nossa é a Via Láctea. Aquilo do Marshall …uhan é hebraico, já sei. Como andou na faculdade de letras e lhe ensinaram línguas exóticas, cheira-me a hebraico e deve ser tipo ‘tem calma’ ou assim… Bom é bom que divulguem coisas de astronomia mas dos sustos não me livro. Se é assim a cultura, abaixo com ela. Bem, vou até ao guincho com a prancha. Combinei com o Gustavo e tem que ser, sempre bebemos um copo e molhamos a prancha e tal…

Thursday, July 27, 2006

O Gosto Gulbenkian e coisas do género

O jornal lê-se na praia ou no café, quando é preciso mostrar que estamos a par de tudo. Quando um homem quer ler o que verdadeiramente interessa, mesmo que seja coisa de mulheres, vai à casa de banho. A minha companheira, que também é minha mulher, e vejam como sou moderno a dizer isto, insiste em comprar o Expresso. Como andou na faculdade de Letras de Coimbra e tal, aceito mas na casa de banho! Na sala, no porta revistas de design do Stark, só as revistas de golfe ou de charutos. Ando agora a ter aulas de golfe e tudo porque é uma actividade que fica bem e é fácil de perceber. Os charutos, ando a ver se me habituo sem me engasgar. Dizem-me que os melhores são os Cohiba e eu comprei dois ou três e depois ponho as cintas nos Álvaro. Quando vou ao golfe dá sempre estilo. Isto vem tudo por causa dos jornais. Pois na casa de banho, lá estava o Expresso de 15 de Julho, com um suplemento chamado de 'actual', com o título 'O gosto Gulbenkian pág. 4' . Primeiro pensei: «O que será o 'Gulbenkian pág. 4'?» Depois percebi que era só 'O gosto Gulbenkian', na página 4. Não era óbvio mas aquilo é só para intelectuais... Fui à página 4, porque um dia caí na asneira de ler o índice e fiquei para morrer. Já lá vai para dois anos e nunca mais li um índice. Na página 4 não se percebe, porque quem fala de gosto, fala de moda e design e relógios e telemóveis e férias em Bali: 'A arte dos Afectos' e depois, a palavra Gulbenkian, escrita ao contrário e acho que era na vertical. Por amor de Deus!! Virei logo e... não consegui ver mais! Sei que era uma estátua, uma caixa de charutos com uma legenda a dizer que era uma...'caixa-farmácia' do Louis Vuitton. Na página seguinte um título criminoso: 'O bibliófilo pródigo'!!! Primeiro, um homem que faz o amor com Bíblias e depois uma brincadeira com o texto que é da Bíblia que é o filho pródigo. É uma leitura, como diz o Cónego Gramíneo Almeyda, que é de boas famílias e que vai lá a casa e bebe whisky de malte e tudo. O que é que aquilo quer dizer? Porque é que um bibliófilo é pródigo? Na bíblia, diz-se que ele, o filho que não tinha nível e assim, foi viajar à hippy. Depois volta e diz ao pai: 'Ó pai, ouça lá, eu quero que mate uma vitela' O outro irmão diz logo: 'Você não tem nível nenhum e tal. Agora vamos sujar tudo com uma vitela se a criada pode comprar vitela no talho e não sei quê!' E o pai, que acho que era Deus ou assim diz: 'Ok! Vamos acabar com isso! Vamos tirar o veleiro da marina e dar uma volta ou então jogar golfe com os Fialho Sampayo que já vieram do Club Med.' O Cónego Almeyda explica-nos assim, porque a bíblia é difícil. É que isto de Deus a escrever livros é difícil. O Cónego Almeyda até já disse que o Joaquim Saramago ou o que é, aquele que é do PC, quis escrever uma bíblia e agora está preso numa ilha dos Açores com um nome tonto, tipo Lancelote ou Laçarote ou assim (só mesmo aquele povo simples dos Açores!)! Pensava que estava acabado mas não: afinal, o Expresso faz bom jornalismo: na folha a seguir, está um senhor que deve ser o bibliófilo, com o nome e tudo. Quem é? Rui Vilar! Está lá o nome! E ainda bem que tem uma fotografia porque pode ser alguém que viva ao pé de nós e assim sai do anonimato! Tinha os olhos com aspecto de ter estado a chorar mas é bem feito: uma Bíblia é para respeitar todos os Domingos, com um bom fato e numa igreja bem frequentada, ou numa estante com nível. Fechei aquilo tudo e saí horrorizado da casa de banho. Já tinha o Tomás Sequeyra e Cunha à minha espera para a aula de golfe. Só tive tempo de dizer à minha companheira: 'Ó Benedita, fique bem, vou ao golfe' e ouvi ao longe 'Vais com quem?' Nem respondi! Quando me trata por tu, está para lhe vir o período e assim!

Thursday, July 20, 2006

Contra o Baixo Nível

Estou fartíssimo do baixo nível que anda por aí. Não posso mais! E ainda por cima, tudo quanto é pessoal sem nível diz que é culto, que vai a concertos, lê certos livros, vê certos filmes, ouve certas músicas, é de esquerda, ou de centro-esquerda, ou de centro-direita ou assim, só para baralhar. Indo ao fundo, é pessoal que, como dizia a avó Mariana, que Deus a tenha em sublime descanso, não bebeu chá em pequenino. Deviam comer papas de qualquer coisa, com farinha maizena ou assim. Seja como for, são cada vez mais e temos de agir, denúnciar e eu não me vou demitir do meu papel nesta cruzada pela subida do nível e assim. Não se esqueça que o meu lema é:
"Conto consigo, se tiver nível, já é amigo!'
(É quase um poema, não é? Às vezes saem-me assim. Quando eu rasgava a roupa ou assim, o avô Proença dizia que eram rasgos de génio: deve ser isso e nem todos nascemos com tais bênçãos)